Nos últimos anos, a tecnologia aplicada aos tratamentos ortodônticos aumentou as possibilidades nas modalidades de planejamento e tratamento, permitindo ao clínico fazer suas opções terapêuticas de acordo com as necessidades individuais do paciente, melhorando o tempo de duração do tratamento, bem como a qualidade dos resultados.
Tecnologias como scanners intraorais, modelos ortodônticos digitalizados e a tomografia computadorizada de feixe cônico mostram-se cada vez mais corriqueiros na prática clínica, assim como a utilização de dispositivos e materiais que acompanham essa evolução e são constantemente aprimorados.
Ao mesmo tempo, os pacientes tornaram-se mais conscientes dos benefícios de um belo sorriso e mais propensos a melhorar sua aparência facial, o que desperta o interesse em várias especialidades e motiva a continuidade dos estudos no sentido do avanço tecnológico.
O atual padrão de beleza sofre grande influência dos veículos de comunicação, os quais ditam uma cultura consumista e caracterizam um sorriso branco e alinhado como o ideal e, de forma inversa, um sorriso desarmônico, pode ser um fator limitante às relações sociais.
Essa mudança, na percepção dos pacientes, incitou a pesquisas por uma mecanoterapia mais confortável, rápida e sem prejuízo estético, assim como estreitou as especialidades odontológicas, mediante uma abordagem multidisciplinar. A interação entre a ortodontia, a dentística restauradora e a prótese, por meio do clareamento dental, lentes de contato e facetas de porcelana, é capaz de fornecer ao paciente resultados condizentes com suas expectativas.
Os braquetes autoligados não são exatamente uma novidade, mas ganham cada vez mais espaço e aceitação tanto pelos profissionais quanto pelos pacientes. O objetivo principal desse sistema é a redução do atrito, uma vez que não necessitam de amarração dente a dente, seja metálica ou elástica. Em seu lugar, apresentam uma “tampa”, por meio da qual os fios mantêm-se no interior dos slots dos braquetes, o que reduz consideravelmente a fricção superficial na interface braquete/fio ortodôntico e, portanto, a resistência à movimentação. Isto permite a utilização de forças de menor intensidade, mais compatíveis com a resposta periodontal de remodelação óssea, facilitando os movimentos de deslize, como as mecânicas de fechamento de espaços, em casos de extrações dentárias, em que o dente movimenta-se tendo o fio ortodôntico como um cursor.
Em contrapartida, é necessário ressaltar que nem todo atrito é prejudicial ao tratamento ortodôntico. Sem a existência do atrito, determinados movimentos, como a correção de dentes rotacionados, verticalização de dentes inclinados e a preparação de unidades de ancoragem, não poderiam ser efetuados. Além disso, embora otimizem o tempo do atendimento clínico, apresentam dificuldades na fase final do tratamento, quando é necessário fazer dobras no fio, especialmente as que expressam o torque. Sendo assim, mesmo com a crescente popularidade, sua superioridade clínica em relação ao sistema convencional ainda não é consensual ou comprovada cientificamente. A escolha do tipo de braquete é realizada de acordo com a preferência individual do ortodontista e qualquer técnica pode conseguir um bom resultado, desde que o profissional seja qualificado para executá-la.
Os braquetes cerâmicos vêm ganhando cada vez mais espaço como resultado da exigência estética dos pacientes. O braquete de safira é feito com uma cerâmica monocristalina translúcida. É bem estético e não colore. O braquete cerâmico, feito com cerâmica policristalina, é menos translúcido que o de safira, mas tem a mesma qualidade quanto à resistência e coloração. Entretanto, esses dois tipos de braquetes cerâmicos quebram mais facilmente e a movimentação dentária pode ser um pouco mais lenta, quando comparados aos braquetes metálicos. Já os produzidos em resina e policarbonato são pouco resistentes e oferecem menor confiabilidade.
A busca da força ótima para a movimentação dentária levou à adição de cobre aos fios de níquel-titânio (CuNiTi), resultando em uma liga com potenciais vantagens na fase inicial da terapia ortodôntica, dependente de fios flexíveis. Os fios de níquel-titânio termoativados apresentam boa flexibilidade, memória de forma e são capazes de manter forças de baixa magnitude. Ao adicionar o cobre a essa liga, os fios tornaram-se mais resistentes à deformação e às forças substancialmente constantes, sendo também mais leves, culminando em uma resposta biológica desejável e melhorando a eficiência do procedimento ortodôntico.
Pensando ainda na otimização da mecânica, somam-se aos miniparafusos inter-radiculares, já bem estabelecidos há algum tempo em nossa prática clínica, os miniparafusos extra-alveolares. Estes últimos são instalados fora da região dentária alveolar, permitindo maior versatilidade nos movimentos ortodônticos, uma vez que as raízes dos dentes adjacentes não interferem com o deslocamento dentário. Os principais sítios de instalação são: a crista infrazigomática (IZC) na maxila; e na mandíbula, a região do buccal shelf e ramo mandibular. Devido à sua simplicidade de instalação e remoção, às inúmeras aplicações clínicas, dentre elas, a distalização, retração, mesialização, intrusão e correção do plano oclusal, a ancoragem esquelética passou a ser uma ferramenta quase indispensável dentro da ortodontia.
Para aqueles pacientes que não suportam a ideia de usar braquetes ou fios, mesmo os estéticos, existe, ainda, a possibilidade dos alinhadores transparentes. Este sistema realmente apresenta um ganho estético incomparável por ser constituído por um material transparente, sem braquetes e fios metálicos, permitindo uma sequência de movimentações dentárias pela troca seriada de alinhadores. Pelo fato de serem removíveis, não dificultam a higienização dos dentes, levando a maior saúde periodontal. Alguns sistemas de alinhadores permanecem limitados à correção de pequenas irregularidades, enquanto outros asseguram tratar maloclusões complexas.
Ao falar dos alinhadores estéticos, é preciso citar outra evolução odontológica: o escaneamento intraoral. Além de substituir as tradicionais moldagens das arcadas, é mais confortável para o paciente, mais rápido e não necessita de espaço físico para o armazenamento dos modelos de gesso. O escaneamento registra dentes, tecidos adjacentes e a oclusão, criando um modelo tridimensional virtual. Um arquivo com as imagens digitalizadas pode ser enviado diretamente para um laboratório, para a confecção de um aparelho ou para a confecção de alinhadores. Para quem preferir, é possível, ainda, a impressão tridimensional do modelo de estudo.
É possível a aquisição de um scanner, o que representa um alto investimento. Como alternativa, várias clínicas de radiologia adquiriram estes aparelhos, porém, para alguns profissionais e pacientes, o custo deste procedimento ainda é alto, além disso, nem todos os laboratórios de ortodontia contam com essa tecnologia.
O escaneamento intraoral, juntamente com a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC), fornecem uma nova plataforma para o diagnóstico ortodôntico e o planejamento do tratamento, ao permitir a avaliação tridimensional do paciente. Uma grande contribuição da TCFC na ortodontia é sua imagem precisa para determinar a posição de dentes impactados, tanto na sua relação vestíbulo-lingual como na angulação e proximidade com os dentes adjacentes, auxiliando na determinação do vetor de força utilizado para posicionar este dente no arco, sem ocasionar reabsorções radiculares. Outras indicações de relevante importância são: o diagnóstico de lesões, dentes supranumerários, reabsorções radiculares, fraturas radiculares e seu grau de deslocamento, assimetrias dentárias e esqueléticas, análise das vias aéreas e da articulação temporomandibular.
Finalmente, a crescente evolução da especialidade, que conta com tecnologia moderna para obtermos ferramentas de diagnóstico mais precisas, por meio de imagens anatômicas 3D mais definidas, e a transição gradual dos modelos de gesso para os modelos digitais constituem uma mudança no paradigma da ortodontia e nos obriga a buscar conhecimento na área da informática, para que possamos acompanhar o mercado e usufruir desse mundo digital. O aumento das possibilidades terapêuticas e a evolução dos materiais e aparelhos, dentre os quais: sistema de braquetes autoligados, fios com memória, aparelhos invisíveis, miniparafusos inter-radiculares e extra-alveolares, melhoram a eficácia do tratamento e reduzem seu tempo.
Entretanto, é preciso sermos criteriosos e ponderados, distinguindo aquilo que, de fato, apresenta relevância ao tratamento, tendo em mente a queixa principal do paciente, sua disposição em aceitar e cooperar com um protocolo de tratamento específico e o real objetivo do tratamento, que inclui alcançar uma oclusão funcional e estável, aliada ao equilíbrio facial. Em meio à ampla gama de produtos e técnicas com diferentes efeitos, cabe ao ortodontista determinar qual o mais indicado para cada caso específico.