Implantes osseointegráveis representam um grande avanço para a Odontologia, na medida em que proporcionam aos pacientes a possibilidade de reposição dos elementos dentários perdidos, de forma previsível, permitindo a recuperação da estética e da função, além do conforto e fonação, que muitas vezes não poderiam ser recuperados com uso de próteses convencionais.
O sucesso a longo prazo dos implantes osseointegrados está bem documentado na literatura, porém, existem fatores que comprometem sua longevidade, entre eles, o acúmulo de biofilme bacteriano na superfície do implante eventualmente exposto à cavidade oral, ocasionando inflamação nos tecidos peri-implantares podendo levar à perda dos implantes (Adell et al.,1981; Lekholm et al., 1999). A colonização microbiana na forma de biofilme e a resposta inflamatória do hospedeiro nos tecidos peri-implantares foram consideradas como os principais fatores etiológicos críticos para o desenvolvimento de doenças peri-implantares (Mombelli, Lang, 1998).
O termo doença peri-implantar é usado, comumente, para descrever complicações biológicas em implantes dentários (Albrektsson & Isidor,1994) incluindo mucosite peri-implantar e peri-implantite. Considerando que a mucosite e peri-implantite são doenças infecciosas, deve ser feita uma discriminação entre elas, sendo a mucosite uma reação inflamatória reversível que acomete os tecidos moles peri-implantares sem perda de suporte ósseo, enquanto a peri-implantite é uma reação inflamatória que acomete tecidos moles e duros com perda de suporte ósseo e de caráter irreversível (Humphrey, 2006; Lindhe, Meyle, 2008). Sabe-se, que o padrão da perda óssea presente na peri-implantite é angular, em formato de cratera aberta marginalmente, frequentemente precedida de mucosite peri-implantar induzida por biofilme bacteriano (Lindhe, Meyle, 2008; Greenstein et al., 2010).
Embora vários estudos relatem a resolução clínica das patologias peri-implantares, ainda hoje não se chegou a um consenso acerca de qual modalidade de tratamento é a mais eficaz para a peri-implantite e que pudesse fornecer um protocolo terapêutico “padrão-ouro” (Faggion et al., 2010; Esposito et al., 2012). Sabe-se porém, que as doenças peri-implantares são um problema frequentemente encontrado na clínica periodontal, e a ausência de um protocolo terapêutico padrão resulta em uso empírico significativo de modalidades terapêuticas e em resultado de tratamento moderadamente efetivo (Papathanasiou et al., 2016).
Como a peri-implantite tem sido associada a bactérias periodontopatogênicas, a remoção do biofilme bacteriano das superfícies dos implantes é pré-requisito para interromper a progressão de eventual doença estabelecida. Diversos protocolos para a descontaminação da superfície dos implantes foram propostos na literatura, como por exemplo: terapia fotodinâmica, laser CO2, descontaminação com ácido cítrico, peróxido de hidrogênio, EDTA, além de um protocolo de bicarbonato em alta pressão (De Oliveira et al., 2009; Mouhyi et al., 2000; Nemer Vieira et al., 2012).
Em estudo realizado in vitro por Nemer Vieira et al. (2012), os autores relataram uma eficaz descontaminação imediata da superfície dos implantes utilizando o método de jateamento com bicarbonato de sódio sob alta pressão, durante um minuto, sob condições assépticas em implantes de superfícies lisas e rugosas, constatando após a leitura dos testes microbiológicos 100% de descontaminação. É imperativo afirmar que ao se aplicar o protocolo de descontaminação proposto em um paciente com peri-implantite, ocorrerá a desorganização do biofilme bacteriano, com isso, o número de bactérias remanescentes será reduzido facilitando assim a ação do sistema imunológico do paciente sobre a infecção peri-implantar, proporcionando a melhora clínica.
Contudo, existem outros métodos para se descontaminar da superfície de implantes e vários protocolos para tratamento das lesões peri-implantares, porém, podemos afirmar que além do método de descontaminação por jato de bicarbonato em alta pressão ser eficiente na remoção do agente etiológico primário da peri-implantite, ele é um recurso de baixo custo, rápido e de fácil acesso ao profissional, o que justifica sua utilização, devendo ser realizado principalmente nas consultas de manutenção.
Diante disso, fica o alerta aos implantodontistas para que fiquem atentos aos sinais clínicos que fornecem risco para o desenvolvimento da peri-implantite, como por exemplo a presença de biofilme bacteriano e inflamação ao redor de implantes instalados, e sempre que possível, removê-lo utilizando o jateamento de bicarbonato de sódio em alta pressão a fim de diminuir a concentração bacteriana local, consequentemente a redução da inflamação e melhora clínica do tecido peri-implantar.
Muito bom!